terça-feira, 23 de fevereiro de 2010 | By: Valeska Moraes

Sonho, sorte e amor. Respectivamente.

"Perigosa. Quem ousa a se arriscar nas armadilhas perfeitas da sua bem-planejada interferência, intercepta seu domínio, que vira submissão se acaso der de cara com seu falso e impiedoso destino."

Da cabeça aos pés es de cetim. De berço é sincronizadamente perfeita.
É uma orquestra de assovios matinais de sabiás e um jardim fértil de mil flores azuis e pétalas lilás, sobre um mar verde e úmido de cristais finos de grama reluzente, onde o sol submisso atinge com prudência seus macios filamentos de perfeição, os quais projetam diagonalmente uma sombra escura e cuidadosamente refletida no honrado plano lustroso, que se resfria ao sentir o toque inofensivo de seus sucessivos fios aureos de lã, que percorrem um mísero e humilde caminho de bronze, que ascendem em direção ao solo e interceptam-se muito antes de acareciá-lo.
Seus negros fios de ceda são perfeitamente moldados e propícios ao penetrar brando das minhas mãos, e entrelaçam-se docemente como uma luva de cetim. Seu cuidado ao estremece-los abre um caminho de brisas perfumadas de aromas naturais, que atrai o olfato como o canto das sereias hipnotiza o forte, e submete o fraco ao paraíso.
Com os diamantes faciais congelados em gelo seco, tens neles o brilho mais infinito e intenso das estrelas, tens na superfície da íris o reflexo do eclipse lunar e no despertar do amanhecer, as cores das galáxias mais coradas do universo.
No maior brilho das constelações intergaláticas, eles são firmes e finos como um fio de cobre e frágeis e delicados com um pêlo de pena, solto numa caixa de lâminas afiadas, na qual qualquer contato flácido causa a sua auto-desintegração.
Apoiado adiante com igual encanto: a fonte do ar tentador. Que é reforçado pela beleza da vaidade circular que ao mesmo tempo que me tenta à madrugada rubra, me seduz integralmente quando ascende ao meu ouvido. Cintilante, aquela pétala de brilho em seu nariz é capaz até de desintegrar as minhas moléculas de concentração.
E em auto-comtemplação traz logo abaixo da tentação superior a minha mais irresistível e receosa fonte de pecado: sua boca. Teus lábios de mel são o fruto da perdição imperdoável que fundidos num plano facial perfeito, se combinam com precisão e atraem em silêncio quem ousa a se aproximar, entorpecendo aos poucos e manipulando cada mísero detalhe celular corporal, parasitando a mente numa velocidade tão intensa que os estímulos voluntários não respondem mais aos comandos cerebrais. E o modo como oscilam ao soprar os seus pensamentos sonoros, torrenciam uma força de atração tão singular e incontrolável que a gravidade até inveja o teu poder divino.
E tens o sabor do mais doce fruto do paraíso que une o pecado mortal ao prazer mundano, e na sua infinita inocencia es o caminho do inferno e o ingresso à salvação.
Perfeitamente contornada com pingos de cristais, es tão bela e doce quanto a flor de lis e sofre uma constante e irreparável metamorfose: cristaliza-se em diamantes de ouro, ao toque da minha imperfeita condição: só ser tão bela e tão doce ao toque dos tão amargos e sem causa, lábios meus.

/CACO